Repico esta matéria do Blog GenPeace, ratificando a sinergia com posturas coerentes e instrutivas contra esta peste que avassala a humanidade.
Em artigo enviado ao Jornal da Ciência e publicado em 22 de dezembro de 2014, o Dr. Nagib Nassar (UnB) defende decisão da Embrapa de não liberar o feijão transgênico e contesta posição da CTNBio (http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/6-o-feijao-transgenico-decisao-e-licoes/) . Sua posição é diametralmente oposta à da maioria dos cientistas que se debruçaram sobre a avaliação de risco deste feijão (evento EMBRAPA 5.1) e que está resumidamente exposta emhttp://bch.cbd.int/database/attachment/?id=13795 . A seguir rebato, parágrafo por parágrafo, o texto do Nagib enviado ao Jornal da Ciência (SBPC), que já havia publicado outro texto sobre o assunto, de autoria do Dr. Walter Colli, com o qual me alinho inteiramente. Também publiquei aqui uma carta do Dr. Luiz Antônio Barreto de Castro, protestando contra novos atrasos na liberação comercial efetiva deste feijão. **************************************************** Nagib: Numa decisão inédita, corajosa e consciente , a atual diretoria da Embrapa cancelou experimentos de avaliação de feijão transgênico e impediu seu uso e consumo. A variedade é a mesma que foi desenvolvida pela instituição e lançada com muita euforia três anos atrás.Minhas observações: O Nagib está enganado: a diretoria não cancelou experimento algum, apenas aparentemente adiou a colocação no mercado. Digo “aparentemente” porque o texto da Nota Técnica, já retirada do portal da EMBRAPA, não deixava claro que poderia haver sequer este adiamento. Ainda que numa nota oficial, ainda online, a EMBRAPA apoie integralmente o feijão EMBRAPA 5.1 (https://www.embrapa.br/esclarecimentos-oficiais/-/asset_publisher/TMQZKu1jxu5K/content/tema-feijao-embrapa-5-1-), as reações negativas à Nota foram muitas e a diretoria, seguramente, deve nos próximos dias esclarecer a questão aos brasileiros, que merecem respeito e atenção de qualquer empresa, mormente uma que seja “nossa”, isto é, do Governo. Nagib:A Embrapa verificou pela experimentação científica no campo e sob condições naturais, que esta variedade seria inútil como técnica de controle de vírus de feijão.Minhas observações: Mais uma vez, o Nagib se engana: o que a EMBRAPA verificou era a existência de mais um novo vírus, mas isso em nada invalida a eficiência do feijoeiro EMBRAPA 5.1 no controle do vírus do mosaico dourado. Razão tem o Dr. Colli, não adotar o feijão GM por causa de outra virose é o mesmo que não tratar um paciente contra uma infecção por causa de outra, apenas porque os remédios são diferentes. Nagib: Há uma história dramática desde o lançamento e aprovação dessa variedade há três anos. A história vivida por nós agrônomos, Ambientalistas e geneticistas, e até jornalistas atraídos por falsa promessa, fez com que um deputado afirmasse antecipadamente, num jornal de grande porte, que nós (já) havíamos resolvido o problema da fome e alimentos no Brasil.Minhas observações: Deputados, eleitores e também cientistas podem se enganar e fazer escolhas e afirmações sem base na realidade, como a do deputado e, por que não, como as do Nagib neste texto ao Jornal da Ciência. A afirmação do deputado e estas aqui, do cientista, não podem ser levadas muito adiante. Há três anos, por decisão tomada por quinze integrantes de CTNBio, formado por representantes de ministérios como Defesa , Relações Exteriores e outros, autorizou plantio e consumo de feijão transgênico, enquanto quatro outros votos de saúde , Meio Ambiente e ONGs, defenderem realizar mais estudos. O Conselho de Segurança Alimentar (CONSEA) na mesma época – no mês de julho do mesmo ano – manifestou para a presidente da República sua preocupação com a atuação da CTNBio em relação a precaução e a violação ali cometida , e alertou para a insuficiência de estudos para liberação do feijão transgênico . Minhas observações: O Nagib propositalmente começa com os Ministérios que parecem ter menos relação com a avaliação de risco do OGM, escondendo ao leitor que, nos “outros” estão o Ministério da Ciência e Tecnologia, as sociedades científicas e o Ministério da Agricultura. Toda a celeuma histórica está comentado nos linkshttp://genpeace.blogspot.com.br/2011/10/avaliacao-de-risco-do-feijoeiro.html e http://genpeace.blogspot.com.br/2011/10/avaliacao-de-risco-do-feijoeiro.html , entre outros. Este último, aliás, comenta um artigo publicado em 2011 no mesmo Jornal da Ciência, que contém essencialmente as mesmas argumentações do Nagib. Nagib: Mais do que isso, foi voto vencido o relato de especialista relator que criticou o fato de estudos serem baseados em apenas 3 ratos ; número pequeno demais para chegar a conclusões estatísticas válidas de biossegurança. Mesmo assim todos machos abatidos antes de idade adulta apresentaram tendência de diminuição de tamanho de rins e de aumento do peso de fígado. Minhas observações: Foram muitos os relatores e só um viu “problemas”, até na tramitação do processo. A oposição foi voto largamente vencido porque não havia ciência nem substância legal em suas argumentações. Os experimentos com animais eram, desde o início, perfeitamente inúteis, porque não há novas proteínas expressas neste feijão e porque os dsRNA não resistem à fervura, mesmo que branda. Além disso, os grupos experimentais, ainda que pequenos (foram vários tratamentos), eram suficientes. Mas nada estatisticamente significativo foi observado. Está tudo no dossiê. Nagib: Desconsiderou-se também o alerta do relator que a legislação estava sendo atropelada, já que deixou-se de apresentar estudo ao longo de duas gerações de animais. Criticou-se que os estudos de campo foram feitos por apenas dois anos e só em três localidades, quando a lei exige testes em toda as regiões onde a planta poderá ser cultivada. Foi afirmado à imprensa, pelo responsável dos experimentes, que testes foram feitos em todos osEcossistemas enquanto o processo no CTNBio mostra que ensaios foram realizados somente na casa de vegetação. Minhas observações: Já comentado acima Nagib: A durabilidade de resistência ao vírus foi questionada, pois os dados mostraram que a primeira geração de sementes apresentou 30% de plantas suscetíveis a vírus, e se isso se repete a cada geração não haverá resistência no quinta ou sexta geração . É o mesmo que foi verificado ultimamente. O pior é que nenhuma dessas questões freou uma falsa euforia!Minhas observações: A interpretação do Nagib é inteiramente equivocada, coisa que me espanta por ele mesmo ser um melhorista. Tudo indica que nunca leu o dossiê nem perguntou uma vírgula ao Aragão ou ao Josias, apenas emprenhando pelas orelhas com o que ouve dos seus like-minded. Nagib: Há muitas lições para aprender, uma delas é que até lançar a variedade, ela custou, pelo valor de hoje, mais de 30 milhões de reais. Não seria bom coletar informações suficientes antes de começar, já que elas existem na literatura científica e são conhecidas por tudo mundo da área. A última foi há doze anos sobre como lançar uma mandioca resistente ao mosaico pela mesma técnica. Custou 15 milhões de dólares e terminou por ser abandonada após poucos anos. Minhas observações: As informações foram coletadas e comprovam largamente o que, desde o início, se sabia: a tecnologia é capaz de gerar uma variedade com imunidade robusta ao vírus, como acontece com mamoeiros e outras plantas. Se, em outra ocasião, a tecnologia falhou, isso de forma alguma invalida esta nova tentativa, até porque hoje se conhece muitíssimo mais sobre o mecanismo de interferência de RNA do que se sabia quando as primeiras tentativas foram feitas. É o avanço normal da tecnologia e é esta uma lição que o Nagib teima em não aprender. Nagib:O fato de que a CTNBio é constituída e decide com base e forma política, prejudica o país e o público consumidor. O caso do feijão mencionado acima é uma clara evidência . Há mais exemplos similares. O milho transgênico M 810 é proibido em toda a Europa; Ásia e até em países da África, que o rejeitou mesmo como presente, e preferiram morrer de fome do que intoxicadas. O Brasil é um dos muito poucos países que o aprovaram graças à CTNBio. As atribuições dessa comissão são legalmente designadas pela lei e pela ANVISA, mas infelizmente, por razões políticas, não são respeitadas. Minhas observações: aqui quem não respeita a verdade nem a CTNBio é o Nagib. A CTNBio decide de forma técnica e suas decisões são essencialmente iguais às de outras agências semelhantes (EFSA, OGTR, EPA+FDA e muitas outras). Aliás, o milho MON810 foi avaliado pela agência europeia (a EFSA), que o considerou seguro. Todos os países podem plantar, se quiserem, e assim o faz Espanha e Portugal. A proibição na França e em outros países (longe de serem todos, nem sequer maioria), esta sim, é fruto da política destes países. Ásia e África vêm adotando com frequência cada vez maior os transgênicos. India, China e África do Sul já os adotam faz muitos anos e agora entram novos países, como o Vietnam e Burkina Faso. O Japão não planta, mas aprova e consome quase todos os transgênicos produzidos no resto do Mundo. Não dá para acreditar que o Nagib não saiba disso e não dá para aceitar que venda esta inverdade aos seus leitores. Nagib: A última lição vem da decisão corajosa da atual diretoria da Embrapa, que poupou ao País muito sofrimento, e para eles levanto meu chapéu e me curvo respeitosamente. Minhas observações: pois é, cada um se curva frente ao seu ídolo de barro, ao sabor de sua ignorância ou de sua fé. Eu prefiro me alinhar do outro lado: o feijão é seguro e pode resolver um problema sério da agricultura, muito mais sério que o Carlavírus. Não me curvo a ideologia alguma, neste caso, mas apenas à Ciência e seus resultados. Que lição eu extraio deste episódio? Que a diretoria da EMBRAPA se deixa influenciar pelas hostes contra os transgênicos, que estão em toda parte no Governo e que prejudicam o país, propalando a falência da agricultura moderna e propugnando pela sua extinção. A substituição por um modelo agroecológico, embora ninguém saiba muito bem o que é isso (há muitas definições possíveis, infelizmente), levaria o Brasil para trás. Os dois modelos podem e devem coexistir e, quem sabe, com o tempo vamos migrando do modelo intensivo para o agroecológico, à medida que precisarmos (por várias razões) produzir menos comida e que pudermos fazê-lo de forma competitiva com uma agricultura alternativa ao agronegócio atual. Eu concluo com a seguinte observação geral: a opinião do Nagib é, na verdade, a opinião de um grupo relativamente heterogêneo que se opõe aos transgênicos por questões ideológicas. O que o Nagib escreveu e o que ele defende são talvez menos suas ideais do que as deste grupo, não apenas neste texto, mas em outros que tive a oportunidade de ler. Não há nada de errado nisso, desde que não se fale em nome da ciência e nem se apresente ao público como pesquisador na área da genética vegetal. |
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