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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Número 582 - 27 de abril de 2012
Mais evidências da letalidade do glifosato para vertebrados
Car@s Amig@s,
O Departamento de Herpetologia da Sociedade Científica Arazandi, no País Basco, analisou os efeitos do herbicida glifosato (ingrediente ativo do Roundup, da Monsanto, usado nas lavouras transgênicas Roudup Ready - RR), sobre espécies de anfíbios que ocorrem na Europeus. Os resultados não deixam margem para dúvidas: doses menores do que as recomendadas pelos fabricantes produzem uma mortalidade absoluta para as 10 espécies estudadas.
O glifosato é um dos herbicidas mais empregados no mundo e a Organização Mundial de Saúde o classifica como levemente tóxico para humanos. No Brasil, várias das formulações registradas a base de glifosato têm classificação toxicológica IV (Pouco Tóxico), e a maioria delas tem classificação ambiental III, numa escala de I a IV em que I representa o maior perigo para o meio ambiente e IV o menor. Existe, entretanto, uma crescente controvérsia a respeito da segurança do produto tanto para a saúde como para o meio ambiente.
Em 2010, a revista Chemical Research in Toxicology [1], da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês), publicou a pesquisa de Andrés Carrasco, chefe do Laboratório de Embriologia Molecular da Universidade de Buenos Aires (UBA), intitulada "Herbicidas a base de glifosato produzem efeitos teratogênicos em vertebrados interferindo no metabolismo do ácido retinoico". Durante 30 meses os pesquisadores estudaram o efeito do glifosato em embriões de anfíbios e os resultados demonstraram deformações produzidas pelo veneno em concentrações até 5 mil vezes menores do que as do produto comercial (500 vezes menores do que as utilizadas na agricultura).
No novo estudo realizado ao longo de três anos no País Basco os resultados ecotoxicológicos mostram que as doses recomendadas por distintos fabricantes superam amplamente as concentrações toleradas pelas espécies analisadas.
Os estudos mostraram também que em doses menores que as letais, que não produzem mortalidade no curto prazo, no longo prazo podem também afetar a biologia e o comportamento dos anfíbios, bem como seu crescimento, estado de saúde ou capacidade de escapar de predadores.
Em sua nota à imprensa [2], a Sociedade Científica Arazandi afirma que "não resta a menor dúvida de que o glifosato afeta negativamente os ecossistemas naturais, sobretudo os meios aquáticos, onde tende a acumular-se. Nestes ambientes seu efeito é multiplicado, já que o produto afeta toda a cadeia trófica, tanto nos níveis basais, eliminando o fitoplâncton que nutre muitos organismos, como animais maiores, como peixes e anfíbios".
Outro estudo recente, publicado este mês na revista científica Ecological Applications [3], também aponta que o glifosato é capaz de provocar deformidades em anfíbios.
Rick Relyea, professor de ciências biológicas e diretor do laboratório de ecologia da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, que há duas décadas estuda ecologia e ecotoxicologia, conduziu uma vasta pesquisa sobre a toxicidade do Roundup a anfíbios (alguns de seus estudos foram criticados pela Monsanto, e as respostas do pesquisador estão publicadas em sua página, no site da Universidade [4]). Em seu último estudo, Relyea colocou grandes tanques de água ao ar livre contendo muitos dos componentes de áreas úmidas naturais. Alguns tanques continham predadores presos em gaiolas, que produzem substâncias químicas que naturalmente induzem mudanças na morfologia dos girinos (como caudas maiores para melhor escapar dos predadores). Depois de colocar os girinos em cada tanque, o pesquisador os expôs a uma gama de concentrações de Roundup.
Os dados mostraram que exposição a doses sub-letais do herbicida causou o crescimento anormal das caudas dos girinos. "Não foi uma surpresa ver que o cheiro de predadores na água induziu o aumento do tamanho das caudas dos girinos", declarou Relyea. "Isso é uma resposta adaptativa normal. O que nos chocou foi que o Roundup induziu as mesmas mudanças. Mais ainda, a combinação de predadores e Roundup levou o tamanho das caudas a ficar duas vezes maior".
Segundo Relyea, este é o primeiro estudo a mostrar que um agrotóxico é capaz de induzir mudanças morfológicas em um vertebrado animal.
"Predadores provocam mudanças no formato das caudas de girinos ao alterar seus hormônios relacionados ao stress", disse Relyea. "As mesmas mudanças de formato verificadas em função da exposição ao Roundup sugerem que o herbicida pode interferir nos hormônios dos girinos e, potencialmente, de muitos outros animais."
Segundo Relyea, "A descoberta é importante porque anfíbios servem não somente como um barômetro da saúde dos ecossistemas, mas também como um indicador dos perigos potenciais para outras espécies na cadeia alimentar, incluindo os humanos".
No Brasil o uso do glifosato aumentou exponencialmente após a introdução das lavouras transgênicas. Segundo dados divulgados pela Anvisa, o uso do glifosato no Brasil entre 2003 e 2009 saltou de 57,6 mil para 300 mil toneladas.
O produto também está entre os 14 ingredientes ativos que a Anvisa colocou em reavaliação toxicológica em 2008. Nesses processos de reavaliação, caso a análise das novas evidências científicas confirmem a insegurança do produto, os órgãos registrantes podem determinar a alteração da classe toxicológica, impor restrições de uso ou de comercialização, ou até mesmo cancelar o registro. Mas a reavaliação do glifosato até hoje não foi concluída.
[1] http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/tx1001749
[2] http://bit.ly/Ih3uXi
[3] http://www.esajournals.org/doi/abs/10.1890/11-0189.1
[4] http://www.pitt.edu/~relyea/Site/Roundup.html
Com informações de:
- "El glifosato: letal para los anfibios del País Vasco" – Baserri Bizia, 01/02/2012.
- Roundup causes deformities in a vertebrate – GMWatch, 04/04/2012.
- New Study Is First to Show That Pesticides Can Induce Morphological Changes in Vertebrate Animals, Says Pitt Researcher – University of Pittsburgh News, 30/03/2012.
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Neste número:
1. Agrotóxicos: um mercado bilionário e cada vez mais concentrado
2. Governo do RS exclui transgênicos de programa de sementes
3. Pragas secundárias atacam milho Bt em Goiás
4. Dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde no Brasil será lançado no Rio
5. Agricultores do agreste da Paraíba recusam as sementes distribuídas pelo governo
A alternativa agroecológica
Testado em GO, feijão agroecológico é livre de qualquer produto químico
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1. Agrotóxicos: um mercado bilionário e cada vez mais concentrado
Seminário realizado na Anvisa mostra o processo de concentração da produção e comercialização de insumos agrícolas. Pesquisador alerta para risco à soberania nacional.
O mercado mundial de agrotóxicos movimentou US$ 51,2 bilhões em 2010. E o brasileiro US$ 7,3 bilhões. As seis maiores empresas – Basf, Bayer, Dow, Dupont, Monsanto e Syngenta – controlam hoje 66% do mercado mundial. E, no Brasil, as dez maiores empresas foram responsáveis por 75% da venda nacional de agrotóxicos na última safra. As gigantes do setor estão comprando as empresas menores, tanto de agrotóxicos, quanto de sementes, formando monopólios e oligopólios. Os dados foram apresentados no 2º Seminário Mercado de Agrotóxicos e Regulação, realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no dia 11 de abril, com a palestra do professor da Universidade Federal do Paraná, Victor Pelaez.
Segundo o pesquisador, que também é coordenador do Observatório da Indústria de Agrotóxicos, a tendência é de que as grandes empresas continuem adquirindo as pequenas. "Existe um ciclo vicioso porque para baixar os preços é preciso produzir em escala maior, e, portanto, as menores empresas não têm condição de se manterem no mercado com os preços menores. Por isto, cada vez o mercado se concentra mais", explica. (...)
O professor mostrou durante a apresentação que quase todas as grandes corporações do ramo de agrotóxicos adquiriram empresas de sementes nos últimos anos. E aquelas que não participam desse esquema acabam ficando de fora do mercado. "Ao vender para o agricultor, a empresa faz o pacote com a semente e o agrotóxico junto, com uma série de facilidades. Isto dá uma competitividade fantástica às empresas que conseguem ter esse portfólio de produtos. É o que chamamos de economia de escopo. Elas podem dar um desconto grande num produto e ganhar dinheiro em outro produto, e com isso vai faltando espaço e recursos para as empresas que não tiverem essa estratégia", detalha.
Dificuldade de informações
(...) De acordo com Pelaez, os dados informados pelo setor regulado à Anvisa, ao Ministério da Agricultura e ao Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsáveis pela fiscalização dos agrotóxicos, são divergentes. "As empresas não têm um controle muito rígido no atendimento dessa demanda. E, por outro lado, é uma demanda que exige muita atenção e cuidado na leitura do manual de preenchimento dos formulários online e também um esforço e trabalho criterioso no preenchimento das informações. O que percebemos em grande parte é uma desatenção e uma falta de cuidado nesse sentido. E os sistemas têm alguns critérios diferentes que fazem com que a empresa não consiga aportar exatamente os mesmos dados", avalia o professor. (...)
Controle
Além das dificuldades no acesso às informações sobre o mercado de agrotóxicos, outro problema é a falta de estrutura dos órgãos de fiscalização brasileiros. Enquanto nos Estados Unidos a Agência de Proteção Ambiental (EPA) tem 850 técnicos, a Anvisa tem 26 e, somados os profissionais do Ibama e do Ministério da Agricultura, não chega a 50 o número de técnicos responsáveis por essa fiscalização. "É absurda a diferença considerando que nós temos um mercado que é 10% maior do que o mercado norte-americano", comenta Victor.
Outra diferença do Brasil em relação aos Estados Unidos são os valores pagos pelo registro e reavaliação dos agrotóxicos. No Brasil, o custo para registro varia entre US$ 50 e US$ 1 mil. Já nos Estados Unidos, esse valor chega a custar US$ 630 mil. A reavaliação e a manutenção anual não são cobradas no Brasil e nos Estados Unidos as empresas precisam pagar US$ 150 mil em caso de reavaliação e de US$ 100 a US$ 425 para manutenção anual.
Segundo Pelaez, são esses montantes que arcam com a estrutura de funcionamento da fiscalização nos Estados Unidos. "Nos Estados Unidos, conseguiram fazer com que a indústria arque com esse valor que gira em torno de US$ 14 milhões. Estes recursos são destinados para financiar programas de treinamento de agricultores e uma política mais consistente de redução do risco da utilização dos agrotóxicos. Para ter mais celeridade, maior segurança e melhor qualidade no processo, alguém tem que pagar por isso, e aqui no Brasil é a sociedade que paga. As empresas são, inclusive, isentas de IPI e têm isenção de até 60% de ICMS", aponta. (...)
Agricultores à mercê das empresas
Os dados sobre o mercado mundial de agrotóxicos apresentados no seminário revelam que esse comércio e o modelo de agricultura que o sustenta não mostram sinais de enfraquecimento. De 2000 a 2010, este mercado cresceu 190% no Brasil e 93% no mundo. Durante a última safra (segundo semestre de 2010 e primeiro de 2011), foram produzidos 833 mil toneladas de produtos em 96 empresas analisadas, do total de 130 cadastradas no país. A América Latina detém 22% do mercado mundial de agrotóxicos, sendo que o Brasil, sozinho, é responsável por uma fatia de 19%.
Para Pelaez, é fundamental discutir qual modelo de agricultura o país quer manter. "Esse modelo de agricultura não esteve aí sempre, não é a ordem natural das coisas como tentam colocar como sendo inevitável e irreversível. Pelo contrário, são escolhas econômicas e políticas que vão acontecendo ao longo do tempo. E lógico, depois de algumas décadas, passa a ser o modelo dominante", diz.
O professor caracteriza o modelo hegemônico na agricultura mundial como altamente excludente e dependente de subsídios do poder público. "Tentativas de implantação desse modelo agrícola na África, em alguns países que não tinham recursos financeiros para subsidiar, fracassaram. A indústria de sementes, agrotóxicos e fertilizantes na verdade é subsidiada pelas populações em geral, dado o custo elevadíssimo", explica.
Embora o quadro de concentração das empresas de agrotóxicos e sementes tenda a se intensificar na avaliação do pesquisador, as contradições dessa estratégia e os prejuízos para os próprios agricultores e para o país também estão se tornando cada vez mais evidentes. Pelaez dá o exemplo da empresa Monsanto, que aumentou recentemente em cinco vezes o preço da semente resistente ao agrotóxico glifosato, ambos – agrotóxico e semente – produzidos pela empresa. "Essa era a crônica da morte anunciada. Essa combinação que a Monsanto faz do glifosato com a semente resistente ao glifosato possibilita esse aumento de preços fantástico. Agricultores gaúchos, que sempre foram extremamente favoráveis à difusão da soja transgênica resistente ao glifosato, entraram com uma liminar contra o pagamento desses royalties. Isto é surpreendente porque eles sempre foram os grandes aliados desse modelo e agora estão sendo vítimas do que sempre defenderam. Isto mostra como o risco está presente", alerta.
Leia mais sobre o assunto na página da Anvisa.
2. Governo do RS exclui transgênicos de programa de sementes
Segundo informações da Fetraf-Sul, em uma votação na tarde desta terça-feira, 24, ficou aprovado que as sementes transgênicas não farão [mais] parte do programa Troca-Troca de sementes no RS. A coordenadora da Fetraf-Sul/CUT no estado, Cleonice Back, participou da votação no Conselho do Feaper (Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais) e afirmou que esta também é uma vontade da Federação.
Cleonice defende a produção convencional, agroecológica, diferenciada e com todo sistema de biodiversidade. "Um grande avanço foi a semente crioula incluída no programa, estamos satisfeitos", concluiu.
3. Pragas secundárias atacam milho Bt em Goiás
Inseto infesta parte das lavouras de milho de Jataí, em Goiás. Pulgão ataca na época da floração e provoca queda na produtividade. Controle químico custa uma média de R$ 10 a R$ 15 por hectare.
A área plantada com milho safrinha foi de 160 mil hectares no município de Jataí, em Goiás. Houve aumento de 14% em comparação com o ano passado. Várias lavouras da região estão no período de floração.
Por causa do clima úmido os produtores enfrentam o ataque do pulgão, praga comum na cultura. O inseto pequeno pode provocar grandes estragos na plantação.
O ataque do pulgão pode prejudicar a produtividade das lavouras em Jataí. Segundo o IBGE, a produtividade média esperada para esse ano é de 95 sacas por hectare. Mas se não houver o controle da praga, o resultado pode cair em até 20%.
Segundo o agrônomo Luiz Batista, 90% das lavouras foram atingidas pela praga. "Se não houver controle químico, a tendência é essa fumagina tomar conta das folhas, o que diminui a área folhear e fazendo com que a planta produza menos", diz.
A maioria dos agricultores do município planta milho transgênico, resistente somente a lagartas. O controle químico custa uma média de R$ 10 a R$ 15 por hectare, um custo a mais para o produtor.
Fonte:
G1, 25/04/2012 (confira o
vídeo da reportagem em que o agrônomo entrevistado se enrola um tanto para tentar convencer que o fenômeno não tem relação com o fato de o milho ser transgênico)
4. Dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde no Brasil será lançado no Rio
População não conhece os riscos dos agrotóxicos
Mesmo sob a crescente pressão da sociedade civil, quem vive na área rural do Brasil ainda é constantemente impactado por agrotóxicos pulverizados nas lavouras de monocultura do País.
Muitas vezes, estes produtos são aplicados a menos de dez metros de escolas e residências. O pior: em casas de pequenos agricultores, que não fazem ideia dos riscos, acabam se tornando embalagem para acondicionar até comida. A situação é descrita no "Dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde no Brasil" feito pelos principais pesquisadores de saúde do País e que será apresentado no
Congresso Mundial de Nutrição Rio 2012, na próxima sexta-feira (27), em Brasília (sic) [no Rio de Janeiro].
Segundo um dos coordenadores do dossiê, o médico e pesquisador Fernando Carneiro, a ideia é fazer frente à bancada ruralista no Congresso Nacional, que aumentou o lobby para liberação do uso de novas substâncias – muitas proibidas nos Estados Unidos e na Europa – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Os ruralistas querem uma agência única para agilizar a aprovação de novos agrotóxicos. Isso pode tirar o poder da Anvisa. Os mecanismos de controle do País já são falhos."
O documento reúne os dados mais recentes sobre o assunto, impulsionado pelo fato de o Brasil ter se tornado, nos últimos três anos, o maior mercado consumidor de agrotóxicos no mundo. O dossiê é encabeçado pela Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Ceará (UFCE) e a Fiocruz do Rio de Janeiro.
Um dos estudos que será apresentado é do médico e pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso Vanderlei Pignatti, ainda inédito. Ele analisou o sangue e a urina de professores das áreas urbanas e rurais das cidades de Lucas do Rio Verde e Campo Verde, no Mato Grosso do Sul. Foram colhidas amostras de 79 professores, 35 em duas escolas da área rural e 39 em duas na área urbana. Havia sinais de agrotóxicos em 70 amostras. Entre os professores da Zona Rural, o nível de resíduos encontrado foi o dobro da zona urbana.
Segundo Pignatti, trata-se de um alerta. "Muitos têm intoxicação crônica, que acontece por conta de exposição contínua aos agrotóxicos. Isso pode desencadear várias doenças."
Ainda de acordo com Pignatti, muitas escolas nas áreas rurais ficam a menos de dez metros de plantações de soja, milho ou algodão, o que significa um risco grave à saúde de alunos e professores. Há uma lei, de 2008, que obriga uma distância de pelo menos 500 metros para a pulverização de agrotóxicos, mas ela não é cumprida em muitos municípios. De acordo com o professor, há 71 cidades do País nessa situação.
Em outra pesquisa, Pignatti detectou agrotóxicos no leite materno. Foram colhidas amostras de 62 mães da área rural de Lucas do Rio Verde e em todas foi encontrado DDT, substância proibida no Brasil desde 1985. Como todas as mães nasceram antes do período, foram contaminadas e até hoje possuem a substância no corpo. Além disso, em 76% foi encontrado o agrotóxico Endosulfan, proibido em toda a Europa, que só será retirado Brasil em 2013.
As instituições responsáveis pelo dossiê fazem parte da
Campanha Permanente contra Agrotóxicos e pela Vida, criada há pouco mais de um ano. O objetivo é mostrar que agrotóxicos são uma escolha não relacionada apenas à economia. Os insumos químicos aumentam a produtividade. Mas, quando se avalia a sustentabilidade, se constata que há desgaste de solos, danos à saúde e dependência econômica dos agricultores.
Não faltam histórias como a do agricultor Nilfo Wandstheer. Morador de Lucas do Rio Verde, ele foi diagnosticado com intoxicação crônica, e sua mulher teve um aborto espontâneo. Há seis anos, Nilfo e a esposa estavam na cidade quando
pulverizou agrotóxicos em toda a cidade, com um avião, num caso que ficou famoso à época. "Fugimos das lavouras de fumo no Sul, onde eu já tinha me intoxicado, mas aqui as plantações de algodão e soja também têm muitos agrotóxicos. As pessoas passam mal e não sabem a causa."
O principal desafio dos médicos é provar os danos causados pelos agrotóxicos, já que os sistemas nacionais têm índices imensos de subnotificação, segundo a pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do Sistema Nacional de Intoxicação (Sinitox), Rosany Bochbochner. "Os médicos não são capacitados para diagnosticar as intoxicações. Isso cria brechas que as empresas usam para desqualificar os dados."
A pesquisadora da Universidade Federal de Ceará Raquel Rigotto estuda agricultores na região do Baixo Jaguaribe (PE), onde a fruticultura irrigada cresceu com a chegada de transnacionais. Ela pesquisou 545 agricultores e concluiu que 30,7% deles apresentavam sintomas de intoxicação no momento da entrevista. "O número de intoxicações é altíssimo, mas o SUS (Serviço Único de Saúde) não está pronto para identificar."
5. Agricultores do agreste da Paraíba recusam as sementes distribuídas pelo governo
Produtores dizem que sementes não são próprias para o clima da região. Grãos apresentam produção bem abaixo do esperado.
Os agricultores do agreste da Paraíba recusaram as sementes distribuídas pelos programas do governo. Eles dizem que elas não são próprias para o clima da região.
O banco de sementes da cidade de Solânea, no brejo da Paraíba, tem milho, feijão e fava, variedades plantadas há décadas na região, o que fez com que os grãos doados pelo governo fossem recusados.
Segundo os agricultores, as sementes da maioria dos programas federais e estaduais são de outras regiões do país e não se adaptam ao clima do semi-árido, apresentando uma produção bem abaixo do esperado. O agricultor Antônio Albino aguarda a chegada da chuva para começar a plantar e só vai usar as sementes produzidas por ele.
O Projeto de Armazenagem dos Grãos, que existe há quase 40 anos em algumas regiões da Paraíba, é chamado de Sementes da Paixão por seu valor. O agricultor Joaquim Santana considera importante o apoio dos governos desde que conheçam e trabalhem de acordo com a realidade de cada região.
A Secretaria de Agricultura da Paraíba informou que elabora um projeto para cultivar as sementes na própria região onde serão plantadas. Deve ser feito um acordo com donos de áreas de cana-de-açúcar para alugar as terras no período de entressafra e produzir as sementes.
Fonte:
G1, 25/04/2012 (confira o
vídeo da reportagem).
A alternativa agroecológica
Testado em GO, feijão agroecológico é livre de qualquer produto químico
Para produtor, uma das vantagens é não ter de lidar com veneno.
Alimento é plantado em volta de árvores e espécies nativas do cerrado.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Arroz e Feijão está testando uma nova variedade do feijão, chamado de agroecológico. Os testes acontecem em uma propriedade de Pirenópolis, a 127 quilômetros de Goiânia. "Ele é produzido absolutamente sem nenhum produto químico e desenhado de acordo com as normas da natureza. As plantas conseguem conviver com insetos e com pragas e fungos sem causar danos econômicos", explica o pesquisador Agostinho Didonetti.
Plantado em uma área experimental, no meio de uma roça de milho e em volta de árvores frutíferas e espécies nativas do cerrado, o alimento parece estar em um local estranho, mas é neste ambiente em que se cultiva o feijão no novo sistema.
Para se conseguir um ambiente equilibrado, é preciso ter diversificação, ou seja, várias espécies diferentes de plantas. A escolha dessas espécies deve ser feita de modo a se ter plantas que convivam em harmonia.
Produção
Quando o pequeno produtor decide plantar o feijão agroecológico, a primeira preocupação deve ser com o chamado período de transição, quando se deixa de usar produtos químicos. É um período que demora até que o ambiente se equilibre.
Outra preocupação é com o solo. "É preciso que ele esteja equilibrado, tanto do ponto de vista mineral quanto do ponto de vista da microbiologia, de sua parte viva. Em geral, quando você utiliza somente um cultivo, normalmente o solo fica viciado para aquela cultura. Quando você usa a diversificação, ele fica equilibrado, de modo que não surgem doenças e pragas de solo e deficiência de nutrientes", afirma Didonetti.
Na área experimental foram plantadas nove variedades de feijão. Dessa forma o produtor pode analisar o desenvolvimento de cada um para escolher qual vai cultivar. Qualquer variedade pode ser utilizada, mas para o feijão agroecológico a aposta é nas variedades crioulas, aquelas que são puras, ou seja, que não sofreram alteração genética.
Para o produtor, uma das vantagens do feijão é a melhora na qualidade de vida, já que o agricultor não tem de lidar com veneno.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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